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| | Duas em cada três mulheres alvo de violência não se queixam | |
As mulheres continuam a silenciar muita da violência de que são vítimas. O primeiro inquérito municipal à violência doméstica e de género foi feito no concelho de Lisboa e revela que duas em cada três mulheres que sofreram algum tipo de violência não se queixaram a ninguém. E só 6,4% contactaram a polícia.Ao sociólogo Manuel Lisboa, director do Observatório Nacional de Violência e Género, coube coordenar o primeiro inquérito municipal à violência doméstica e de género, que foi apresentado nesta terça-feira à tarde na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa. O estudo vai ao encontro de outros feitos a nível nacional. É uma espécie de zoom sobre um dos territórios nacionais com maior número de ocorrências criminais. Chega ao nível das freguesias.O questionário — aplicado, porta-a-porta, a 1314 mulheres e 1302 homens — revela, desde logo, que a prevalência de vitimação física, psicológica e sexual é maior entre eles (61,9%) do que entre elas (50,3). E isso, diz Manuel Lisboa, “tem muito a ver com processos de socialização”.No universo masculino, os actos tendem a ocorrer em idades mais baixas e em espaços públicos, como escolas, muitas vezes pela mão de desconhecidos, amigos, colegas. Já no feminino, é em todas as idades, mais nos espaços privados, no quadro de relações familiares ou íntimas.Os homens, como as mulheres, também são vítimas de violência doméstica. A prevalência até é semelhante (28% das mulheres e 26% dos homens afirmam já ter sido vítimas). Só que esses valores, nota, correspondem a “violência acumulada”. Eles são muito mais vítimas de violência por parte do pai e da mãe.Quando se analisa apenas a violência dentro das relações de intimidade abre-se um fosso de género: 23% das mulheres e 10,85% dos homens afirmam já ter sido vítimas. “A violência contra as mulheres é fundamentalmente baseada na desigualdade de género, nas relações de poder”, salienta.A realidade “não é a preto e branco”. Tem, como diz Manuel Lisboa, “muitas nuances”. Importa admitir que também há mulheres que agridem parceiros. Podem desencadear a violência ou agir em cadeia. Um agride, o outro reage de forma violenta, isto é, defende-se atacando, o outro reage...O impacte da violência é maior no quotidiano das mulheres. Mais de metade (52,9%) já mudou rotinas depois de ter sofrido um acto de violência. Um terço desenvolveu problemas psicológicos. Uma em cada dez julga que a sua sexualidade ficou afectada. Uma em cada 20 pensou em atentar contra a sua vida.E se não acreditarem...Apesar de tudo, o número de participações às forças de segurança mantém-se baixo. Duas em cada três mulheres afiançam que depois de sofrer um acto violento “nada” fizeram. Quase todas as outras desabafaram com alguém (28,6%). Uma pequena parte contactou às autoridades (6,4), os serviços de saúde (1,4) ou alguma organização não governamental (1,5%).Mesmo entre as 79 mulheres que já foram ameaçadas com armas de fogo ou armas brancas, mantém-se elevada a percentagem de cifras negras: 36,7% dizem que nada fizeram, 25,3% que recorreram às forças de segurança, 19% que reagiram com insultos, 12,7% que desabafaram, 6,3% que agrediram também.Vários motivos estão por trás destes números. Muitas mulheres não atribuem importância suficiente ao sucedido (18%) ou não têm confiança no trabalho das entidades competentes (14%). Também há as que se renderam à vergonha (13,1%) ou que se refugiaram na esperança de uma reconciliação (10,2%).O estudo traz outros elementos que entram no processo de decisão. Algumas mulheres ficaram com medo de não encontrar do outro lado quem acreditasse nelas (8,2%). Algumas nem sabiam a quem se dirigir (7,8%). Algumas gostavam demasiado do parceiro para reagir (6,3%). E outras temeram que tudo piorasse (5,3%). | |
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